Como o Turismo e o Mercado Imobiliário Estão Transformando a Barra e o Santo Antônio Além do Carmo em Salvador

Manu Dias | Gov. Bahia


Salvador é uma cidade que pulsa história e cultura, e isso fica ainda mais evidente em bairros antigos como a Barra e o Santo Antônio além do Carmo. Esses lugares estão passando por grandes mudanças, impulsionadas pelo turismo — seja o agito do Carnaval ou o charme único de suas tradições — e pelo mercado imobiliário, que não para de crescer. Mas o que está por trás disso? Investimentos públicos, plataformas como o Airbnb, novas leis urbanas e até a chegada de visitantes do mundo todo. Tudo isso traz dinheiro e movimento, mas também desafios, como moradia cara, trânsito caótico e a pergunta: quem consegue ficar nesses bairros.

Nos últimos anos, os números impressionam. Na Barra, os preços dos imóveis subiram 20% entre 2018 e 2023, segundo o jornal A Tarde. Já no Santo Antônio, o salto foi de 30% desde a reforma do bairro em 2021, de acordo com o CRECI-BA. A prefeitura investiu pesado — R$ 60 milhões na revitalização da Barra em 2014 e R$ 15 milhões no Centro Histórico em 2021 —, e eventos como o Carnaval, junto com o boom de aluguéis temporários, mudaram a cara desses lugares. Vamos entender como isso aconteceu e o que significa para quem vive ou visita Salvador.

 

Barra: O Reinado do Carnaval, dos Prédios Altos e dos Apartamentos Pequenos

Se você já esteve na Barra durante o Carnaval, sabe que o bairro vira um mar de gente — cerca de 2 milhões de foliões por ano, gerando R$ 1,8 bilhão, segundo a Prefeitura. Esse movimento todo, que explodiu quando o circuito Barra-Ondina virou o point da festa nos anos 1990, transformou a região. Antes um lugar tranquilo para morar, hoje é um polo agitado, cheio de prédios modernos e apartamentos caros. O preço médio por metro quadrado chegou a R$ 8.361 em 2023, e um apartamento de dois quartos pode custar entre R$ 500 mil e R$ 1,2 milhão. Alugar? De R$ 2.500 a R$ 4.000 por mês, mas esses valores dobram na alta temporada.

O Airbnb entrou na dança e hoje 30% dos imóveis da Barra viram hospedagens temporárias, com diárias entre R$ 300 e R$ 500. A prefeitura ajudou nessa transformação: em 2016, o Plano Diretor (PDDU) liberou torres de até 20 andares, e o mercado de luxo respondeu com 25% mais lançamentos de prédios chiques desde então. Mas um detalhe chama atenção: cada vez mais, os imóveis novos são studios ou apartamentos de quarto e sala, menores e compactos. Por quê? Segundo o urbanista Richard Florida, isso reflete a chegada de “populações criativas” — jovens profissionais, casais sem filhos e turistas que buscam estilo de vida e localização, não espaço. Eventos como a Parada do Orgulho Gay, que reúne 100 mil pessoas, e o próprio Carnaval atraem esse público, que prefere apartamentos práticos para morar ou alugar por temporada. O axé e o samba-reggae, ecoando pelas ruas, completam o clima, incentivando bares, palcos temporários e essa vibe de cidade jovem e agitada.

 

Santo Antônio: História Viva e Preços nas Alturas

Já o Santo Antônio além do Carmo tem outro ritmo. Com casarões antigos e uma atmosfera boêmia, o bairro atrai quem busca cultura e autenticidade. A reforma de 2021, custando R$ 15 milhões, deu um gás novo, e a valorização disparou 30% desde então. Um casarão histórico pode custar de R$ 800 mil a R$ 4 milhões, enquanto lofts menores saem entre R$ 280 mil e R$ 400 mil. Aluguéis variam de R$ 1.500 a R$ 3.000, e no Airbnb as diárias ficam entre R$ 200 e R$ 400.

Aqui, o turismo é mais “de nicho”. Eventos como o Salvador Capital Afro celebram a herança afro-brasileira, e artistas locais enchem o bairro de vida com festivais e ocupações culturais. Mas há um porém: o tombamento histórico, que protege os prédios antigos, limita novas construções. Isso mantém o charme colonial, mas também faz os preços subirem, já que a oferta de imóveis não cresce. Pequenos hotéis e pousadas surgem em casarões comprados por investidores, e nômades digitais — aqueles que trabalham remoto de qualquer lugar — estão chegando, aumentando a procura por aluguéis temporários.

 

O que Esses Bairros Têm em Comum?

Tanto na Barra quanto no Santo Antônio, o turismo e o mercado imobiliário estão redesenhando Salvador. Na Barra, é o turismo de massa, com Carnaval, prédios altos e apartamentos menores. No Santo Antônio, é o turismo cultural, com história e limites ao crescimento. Veja as diferenças na tabela abaixo:

Aspecto

Barra

Santo Antônio além do Carmo

Turismo

Massa (Carnaval, Réveillon)

Cultural (história, boemia)

Valorização

20% (2018-2023)

30% (2021-2024)

Airbnb

30% das unidades, R$ 300-500

15% das unidades, R$ 200-400

Regulação

PDDU (verticalização)

Tombamento (limitação)

 

Lucro e Desafios

Essas mudanças trazem dinheiro e novidades. A Barra virou um ímã para grandes construtoras e turistas do mundo todo, enquanto o Santo Antônio atrai quem quer algo único, além de trabalhadores remotos. Mas nem tudo são flores. Os preços altos estão empurrando moradores antigos para fora, e o risco é que esses bairros percam a diversidade que sempre tiveram. Na Barra, o trânsito e o barulho são queixas constantes. No Santo Antônio, a falta de moradia acessível preocupa.

 

E o Futuro?

Salvador está se conectando ao mundo, com 1,5 milhão de turistas em 2023 e mais eventos promovidos por secretarias como a SETUR-BA e a SECULT. Para especialistas, como o urbanista Alain Bertaud, cidades crescem assim: com mercado livre e gente nova chegando. Mas o desafio é incluir, não excluir. Ideias como incentivar moradias variadas na Barra ou reformar casas com ajuda do governo no Santo Antônio podem manter o equilíbrio. Afinal, Salvador é mais do que um destino turístico — é um lar, com raízes profundas que merecem ser preservadas enquanto a cidade avança.

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