Como o Turismo e o Mercado Imobiliário Estão Transformando a Barra e o Santo Antônio Além do Carmo em Salvador
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Manu Dias | Gov. Bahia |
Barra: O Reinado do Carnaval, dos Prédios Altos e dos
Apartamentos Pequenos
Se você já esteve na Barra durante o Carnaval, sabe que o
bairro vira um mar de gente — cerca de 2 milhões de foliões por ano, gerando R$
1,8 bilhão, segundo a Prefeitura. Esse movimento todo, que explodiu quando o
circuito Barra-Ondina virou o point da festa nos anos 1990, transformou a
região. Antes um lugar tranquilo para morar, hoje é um polo agitado, cheio de
prédios modernos e apartamentos caros. O preço médio por metro quadrado chegou
a R$ 8.361 em 2023, e um apartamento de dois quartos pode custar entre R$ 500 mil e R$
1,2 milhão. Alugar? De R$ 2.500 a R$ 4.000 por mês, mas esses valores dobram na
alta temporada.
O Airbnb entrou na dança e hoje 30% dos imóveis da Barra
viram hospedagens temporárias, com diárias entre R$ 300 e R$ 500. A prefeitura
ajudou nessa transformação: em 2016, o Plano Diretor (PDDU) liberou torres de
até 20 andares, e o mercado de luxo respondeu com 25% mais lançamentos de
prédios chiques desde então. Mas um detalhe chama atenção: cada vez mais, os
imóveis novos são studios ou apartamentos de quarto e sala, menores e
compactos. Por quê? Segundo o urbanista Richard Florida, isso reflete a chegada
de “populações criativas” — jovens profissionais, casais sem filhos e turistas
que buscam estilo de vida e localização, não espaço. Eventos como a Parada do
Orgulho Gay, que reúne 100 mil pessoas, e o próprio Carnaval atraem esse
público, que prefere apartamentos práticos para morar ou alugar por temporada.
O axé e o samba-reggae, ecoando pelas ruas, completam o clima, incentivando
bares, palcos temporários e essa vibe de cidade jovem e agitada.
Santo Antônio: História Viva e Preços nas Alturas
Já o Santo Antônio além do Carmo tem outro ritmo. Com
casarões antigos e uma atmosfera boêmia, o bairro atrai quem busca cultura e
autenticidade. A reforma de 2021, custando R$ 15 milhões, deu um gás novo, e a
valorização disparou 30% desde então. Um casarão histórico pode custar de R$
800 mil a R$ 4 milhões, enquanto lofts menores saem entre R$ 280 mil e R$ 400
mil. Aluguéis variam de R$ 1.500 a R$ 3.000, e no Airbnb as diárias ficam entre
R$ 200 e R$ 400.
Aqui, o turismo é mais “de nicho”. Eventos como o Salvador
Capital Afro celebram a herança afro-brasileira, e artistas locais enchem o
bairro de vida com festivais e ocupações culturais. Mas há um porém: o
tombamento histórico, que protege os prédios antigos, limita novas construções.
Isso mantém o charme colonial, mas também faz os preços subirem, já que a
oferta de imóveis não cresce. Pequenos hotéis e pousadas surgem em casarões
comprados por investidores, e nômades digitais — aqueles que trabalham remoto
de qualquer lugar — estão chegando, aumentando a procura por aluguéis
temporários.
O que Esses Bairros Têm em Comum?
Tanto na Barra quanto no Santo Antônio, o turismo e o
mercado imobiliário estão redesenhando Salvador. Na Barra, é o turismo de
massa, com Carnaval, prédios altos e apartamentos menores. No Santo Antônio, é
o turismo cultural, com história e limites ao crescimento. Veja as diferenças
na tabela abaixo:
Aspecto |
Barra |
Santo Antônio além do Carmo |
Turismo |
Massa (Carnaval, Réveillon) |
Cultural (história, boemia) |
Valorização |
20% (2018-2023) |
30% (2021-2024) |
Airbnb |
30% das unidades, R$ 300-500 |
15% das unidades, R$ 200-400 |
Regulação |
PDDU (verticalização) |
Tombamento (limitação) |
Lucro e Desafios
Essas mudanças trazem dinheiro e novidades. A Barra virou um
ímã para grandes construtoras e turistas do mundo todo, enquanto o Santo
Antônio atrai quem quer algo único, além de trabalhadores remotos. Mas nem tudo
são flores. Os preços altos estão empurrando moradores antigos para fora, e o
risco é que esses bairros percam a diversidade que sempre tiveram. Na Barra, o
trânsito e o barulho são queixas constantes. No Santo Antônio, a falta de
moradia acessível preocupa.
E o Futuro?
Salvador está se conectando ao mundo, com 1,5 milhão de
turistas em 2023 e mais eventos promovidos por secretarias como a SETUR-BA e a
SECULT. Para especialistas, como o urbanista Alain Bertaud, cidades crescem
assim: com mercado livre e gente nova chegando. Mas o desafio é incluir, não
excluir. Ideias como incentivar moradias variadas na Barra ou reformar casas
com ajuda do governo no Santo Antônio podem manter o equilíbrio. Afinal,
Salvador é mais do que um destino turístico — é um lar, com raízes profundas
que merecem ser preservadas enquanto a cidade avança.
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