A “Surpreendente” Valorização de Pernambués


Salvador, com sua geografia marcada pela Baía de Todos os Santos, a falha geológica e a costa atlântica e, por outro lado, a sua identidade cultural pulsante, é uma cidade onde o mercado imobiliário reflete tanto as belezas naturais quanto as desigualdades sociais. Entre os fatores que influenciam o preço do metro quadrado nos diversos bairros da capital baiana, destacam-se a proximidade com a orla, a infraestrutura urbana, o comércio, a segurança e os investimentos em novos empreendimentos. Mas um dado recente surpreende: Pernambués, um bairro historicamente associado a ocupações informais e à violência ligada ao tráfico de drogas, figura hoje com o quinto metro quadrado mais caro da cidade, alcançando R$ 7.252, à frente de áreas tradicionais de classe média alta como a Pituba (R$ 6.256/m²). Como explicar essa valorização aparentemente paradoxal?


Os Pilares da Valorização Imobiliária em Salvador

Para entender o caso de Pernambués, é preciso olhar o contexto mais amplo da valorização do solo em Salvador. Bairros como Barra (com valores acima de R$ 10.000/m²) e Rio Vermelho (R$ 8.718/m²) devem seus altos preços à proximidade com o mar, à vista privilegiada e ao apelo turístico. Já áreas como Caminho das Árvores e Itaigara se beneficiam da infraestrutura moderna, com acesso a vias rápidas, metrô, shoppings e hospitais, atraindo famílias e profissionais. A segurança e o prestígio histórico, como na Graça, Vitória, ou a vida comercial vibrante, como no Rio Vermelho, também elevam os preços. Mas o que torna Pernambués, um bairro de perfil tão distinto, um outlier nesse cenário? 


Pernambués: Localização, Investimentos e Contrastes

A chave para entender a valorização de Pernambués está em uma combinação de fatores que transcendem sua imagem mais conhecida. Primeiro, a localização estratégica: o bairro está próximo de grandes eixos viários, como a Avenida Paralela e a Luís Eduardo Magalhães, além de contar com a estação de metrô Pernambués e estar a poucos minutos da rodoviária e de centros comerciais como o Salvador Norte Shopping. Essa conectividade é um ímã para moradores que priorizam mobilidade e para investidores que enxergam potencial de crescimento.

Outro ponto crucial é a chegada de novos empreendimentos imobiliários. Nos últimos anos, Pernambués tem recebido projetos como o Horto Bela Vista, condomínios de alto padrão voltados para a classe média alta. Esses lançamentos elevam a média do metro quadrado nas áreas mais estruturadas do bairro, criando um fenômeno de "gentrificação parcial". Enquanto partes de Pernambués seguem marcadas por conglomerados — áreas classificadas como favelas pelo IBGE, com saneamento precário e ocupação informal —, outras regiões exibem residências valorizadas e conjuntos habitacionais modernos. Esse contraste interno explica por que os preços médios sobem, mesmo que o bairro como um todo ainda enfrente desafios sociais.


Especulação e Demanda Local

A especulação imobiliária também desempenho um papel importante. A proximidade com bairros nobres, como Caminho das Árvores, e os investimentos em infraestrutura pública e privada alimentam a aposta de que Pernambués pode se transformar em um polo mais desenvolvido no futuro. Corretores locais apontam que a demanda no bairro muitas vezes vem de quem já o conhece bem — moradores ou investidores regionais que valorizam a localização e o potencial de retorno, mesmo em um contexto de baixa liquidez. Essa procura orgânica sustenta os preços altos em bolsões específicos.


O Paradoxo da Violência

E a violência? É inegável que Pernambués tem áreas dominadas pela insegurança, especialmente ligadas ao tráfico de drogas. No entanto, isso não parece frear a valorização. O mercado imobiliário, em muitos casos, opera em uma lógica própria: a localização e o potencial de transformação frequentemente superam os problemas atuais. A violência se concentra em pontos específicos, enquanto os novos empreendimentos surgem em zonas mais planejadas ou protegidas, criando uma dualidade que permite a coexistência de altos preços com uma realidade social complexa.


Por que Supera a Pituba?

Comparado à Pituba, um bairro consolidado de classe média alta, Pernambués apresenta uma dinâmica diferente. A Pituba, com seu mercado imobiliário mais saturado e menos lançamentos recentes, viu uma valorização estável (9,5% no último ano), mas não acompanha o salto de Pernambués em valores absolutos. Enquanto a Pituba já atingiu um patamar de estabilidade, Pernambués está em transição, impulsionado por novos projetos e pela expectativa de crescimento, o que inflaciona os preços em áreas específicas e desafia as percepções tradicionais sobre o que torna um bairro "valorizado" em Salvador.


Reflexões sobre o Futuro Urbano

O caso de Pernambués é um exemplo fascinante de como o mercado imobiliário pode se desconectar, ao menos em parte, da realidade social de um lugar. Ele reflete tanto o potencial de transformação urbana quanto as desigualdades que persistem em uma cidade como Salvador. A valorização do bairro levanta questões: até que ponto esses investimentos beneficiarão a população local? Ou será Pernambués apenas mais um palco da especulação que empurra os mais vulneráveis para as margens? Para quem acompanha a evolução das cidades, como o *Imago Urbis* propõe, esse é um tema que merece atenção contínua.



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