Notas preliminares sobre um NIMBY

O novo NIMBY (“Not In My Backyard” - ver post anterior) da cidade é o empreendimento Bridges Porto da Barra. Um conjunto de três torres previstas para serem construídas onde funciona (funcionava?) um supermercado, na Rua Marques de Caravelas.


Com uma localização muito privilegiada - fica ao lado da praia do Porto da Barra - o Bridges promete mais de 500 unidades do tipo studio com cerca de 22m2. Mira, é claro, em investidores que visam aluguéis em curtas temporadas. Só na Barra cerca de 17 novos edifícios foram construídos com esse intuito.


Parte dos moradores e empresários locais (de hotelaria) já gritam contra o empreendimento nas redes sociais. - Aqui não! - A Barra não suporta! - Vai engarrafar tudo! - Vai colapsar os sistemas de água e esgoto! etc etc etc


Com cerca de 18mil habitantes, a Barra é um dos bairros de menor densidade populacional da cidade. Novas unidades na região seriam até bem vindas para fomentar economia local, tornar a região mais segura e provocar um aumento na oferta de serviços e comércio.


O problema, na minha opinião, é que esses empreendimentos imobiliários são voltados unicamente para a construção de pequenos studios e para o uso intensivo de plataformas como o Airbnb, que é um fenômeno que ocorre em diversas cidades turísticas, e Salvador, especialmente no bairro da Barra, não é exceção. Deveríamos, ao contrário, ter uma previsão, ainda que em menor porcentagem, de tipologias maiores, permitindo uma diversidade de perfis de moradores. 


O processo de turistificação pode enfraquecer os laços sociais sociais locais, transformando  bairros residenciais em zonas de uso temporário.


Claro, o aumento da densidade em áreas consolidadas, sem o devido planejamento, também pode sobrecarregar serviços públicos, como saneamento e trânsito. Aqui espera-se que a licença expedida tenha sido com base nessas avaliações de impacto.


E o excesso de unidades voltadas ao aluguel de curta temporada pode gerar conflitos entre moradores fixos e temporários, principalmente ruídos, festas e falta de comprometimento com o espaço coletivo o que, convenhamos, já acontece na Barra e em bairros como o Santo Antonio além do Carmo. Mas que sempre pode piorar.


Esse modelo que atrai investimentos baseado em locações tem alguns aspectos positivos, especialmente para a economia local e o turismo, mas precisa ser equilibrado para que bairros inteiros não virem apenas zonas turísticas. Algumas cidades no mundo já implementaram limites para locações via Airbnb, como restrições temporais e obrigações fiscais.


Essas distorções no uso do solo são claras demonstrações de que o PDDU é uma ferramenta pouco eficiente para lidar com o planejamento acelerado de metrópoles; o fluxo especulativo de capitais e as rápidas mudanças tecnológicas dos nossos tempos. 


Precisamos avançar para modos mais flexíveis e capazes de respostas mais rápidas e particularizadas às diversas demandas e transformações de uma grande cidade como Salvador.

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