Pequenas ações, grandes resultados contra a criminalidade

Foto Steven Siegel

New York até o final dos anos 80 era um lugar muito diferente do clima de cidade civilizada e amigável que pode ser vista hoje em muito filmes, sobretudo em comédias românticas, onde os espaços públicos servem como cenários tranquilos para casais apaixonados. Antes da implementação da política de "Tolerância Zero", a criminalidade e a insegurança eram problemas graves na cidade. A taxa de criminalidade era alta, especialmente em áreas como o metrô e os parques públicos, e os moradores e visitantes frequentemente se sentiam inseguros. O crime violento, como homicídios e roubos, também era comum. Alguns dos filmes da época mostram a cidade suja e os vagões de metrôs completamente vandalizados.

Em 1994, o então prefeito Rudy Giuliani e o comissário de polícia William Bratton implementaram a política de "Tolerância Zero", que visava reduzir a criminalidade na cidade através de medidas de controle de rua e aplicação da lei mais rígida. Essas medidas incluíram aumento da presença policial nas ruas, aumento da fiscalização de pequenos delitos e aplicação de multas e prisões para crimes menores

A teoria "Fixing the broken windows", de George Kelling, ajudou na implementação das medidas anti-criminalidade. Essa teoria argumenta que o controle dos pequenos delitos e a manutenção de uma aparência de ordem e limpeza na cidade podem ajudar a prevenir a criminalidade mais grave. De acordo com essa teoria, se não coibirmos crimes menores, como vandalismo, outros delitos podem ocorrer na área, pois os criminosos podem interpretar a falta de manutenção como uma falta de controle. Isso vale também para ruas que ficam constantemente sujas.

Depois da implementação da política de "Tolerância Zero", a criminalidade na cidade de Nova York diminuiu significativamente. A taxa de homicídios caiu de 2.245 em 1990 para 649 em 2019. Além disso, a taxa de crime geral caiu de 2.048,6 por 100.000 habitantes em 1990 para 301,5 por 100.000 habitantes em 2019. Um diferença extremamente significante. A política também foi creditada por aumentar a sensação de segurança entre os moradores e visitantes da cidade.

Embora parte dessas medidas precisem da intervenção estatal (Prefeitura ou Governo do Estado) para serem implementadas, como é o caso da atuação mais efetiva do aparato policial e da limpeza urbana, todas as ações podem e devem partir da demanda mais efetiva dos seus moradores a esses agentes. Algumas providências, no entanto, não precisam esperar por atuação estatal, como manter casas e edifícios com boa aparência; cuidar de canteiros ajudando na sensação de territorialidade; comprando no comércio local para manter a circulação nas ruas mais efetiva; criando grupos de moradores que ajudem na criação de uma rede de segurança e ajuda mútua.

Um bom exemplo é a significativa diminuição da presença de usuários de crack que moradores da Rua Banco dos Ingleses (Centro, Salvador) conseguiram com a efetiva (re)territorialização de uma lateral cega da rua. A área foi limpa, pintada, cercada e jardinada através de um rateio coletivo de uma pequena quantia. Foi o suficiente para acabar com um ponto de permanência que só crescia em sujeira, deliquência, distúrbios e insegurança.      

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