É possível tornar as cidades mais seguras através do desenho urbano? Essa não é uma questão recente. Tem pelo menos 60 anos que a escritora canadense Jane Jacobs escreveu o clássico Morte e Vida de Grandes Cidades, onde através de uma crítica contundente ao urbanismo modernista aponta, à partir de observações empíricas na cidade de New York, caminhos por onde o desenho urbano pode fazer a diferença na constituição de bairros e cidades mais humanas.
Depois de Jacobs, esse campo de investigação não parou e, no caso da prevenção à criminalidade urbana, ganhou diversas e importantes contribuições ao longo das últimas décadas, como por exemplo a Teoria das Janelas Quebradas, de James Q. Wilson e George L. Kelling, que deu origem à política de "tolerância zero" implantada na New York dos anos 80 e que reduziu drasticamente os números de crimes na cidade.
Vivendo nas cidades brasileiras contemporâneas, onde a violência urbana atingiu níveis absurdos, nos perguntamos porque essa abordagem é pouca conhecida por aqui, onde, com exceção do livro da Jane Jacobs, nenhum dos autores importantes - de arquitetos a criminalistas - sequer foi traduzido para o Português.
Minha desconfiança é um tanto óbvia. Como praticamente toda a Ciência Social no Brasil, nesse mesmo período de 5 a 6 décadas, foi tomada pela abordagem materialista dialética, a questão da criminalidade foi empurrada para a explicação única da luta de classes, desigualdade social e expropriação, onde a existência da sociedade capitalista explicaria todas as nossas mazelas e a solução passaria, necessariamente, pela sua extinção. O resultado é que todas as práticas na tentativa de reverter esse quadro preconizam a recuperação e ressocialização de criminosos e a mitigação dos "efeitos perversos" do capitalismo através de políticas de cunho social.
Entretanto, ainda que a questão da criminalidade como um todo passe, necessariamente, por uma abordagem multidisciplinar, existe um grupo não desprezível de crimes contra a pessoa e o patrimônio público e privado que poderia ser bastante reduzido com análises e redesenho do espaço físico, ou seja, uma tarefa que cabe a arquitetos e urbanistas. São essas abordagens e técnicas que vou passar a tratar aqui nessa retomada do Imago Urbis, na tentativa de divulgá-las e, quem sabe, auxiliar um pouco na reconquista dos nossos bairros e cidades como espaços seguros de convivência e desfrute.
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