Alguns setores da cidade de Salvador não falam de outra coisa. O PDDU ou Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano da cidade de Salvador foi sancionado na última semana e, desde então, tem gerado um sem número de polêmicas, acusações e algumas (poucas) comemorações.
Não deixa de ser muito curioso que ainda estejamos fazendo Planos Diretores nos dias de hoje, tentando utilizar instrumentos modernistas na metrópole contemporânea. Essa é, no entanto, uma discussão mais ampla que este 'post'. Mais curioso ainda é que os pontos polêmicos do PPDU de Salvador são aqueles mais adequados a uma Lei de Uso do Solo e não a um Plano Diretor, como o gabarito de alturas das edificações em alguns trechos da cidade.
A mim parece que, salvo algumas vozes realmente preocupadas com questões como o patrimônio arquitetônico, como no caso das alterações previstas para o Comércio, a maior parte dos que se posicionam contra a lei que foi aprovada manifestam, com argumentos técnicos frágeis, um preconceito ideológico velado contra a possibilidade de se pensar a relação da cidade com o capital imobiliário. Este passa a ser o mal maior que vai levar sombra às praias da orla atlântica, congestionar o trânsito e os sistemas de esgotamento sanitário e comprometer a ventilação da cidade.
Estudos que realmente comprovem essas afirmações estão longe de serem colocados na mesa, no entanto. Entramos na era do urbanismo especulativo, de oratória.
Pontos mais problemáticos, como a manutenção de um modelo de cidade que privilegia o transporte por automóveis particulares passam, no entanto, sem maiores acirramentos de ânimos. Acredito que poucos dentre os que estão preocupados com a sombra nas areias de Patamares estejam dispostos a abrir mão de andar no seu carro de passeio e lutar por um transporte coletivo digno e eficiente para uma metrópole como Salvador, por exemplo.
Gostaria muito de enxergar nesse debate posições que estivessem embasadas em estudos sérios, coisa que há muito os arquitetos e urbanistas de Salvador se afastaram. Viramos sociólogos, economistas, antropólogos e assistentes sociais. Só não sabemos mais projetar e pensar a cidade nas suas formas, na sua visualidade. As referências da arquitetura na cidade continuam sendo o nosso modernismo. Há décadas. A nossa sombra é outra e já está mais do que na hora de sair dela.
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