foto Marcello Bubani
Uma série de pesquisas conduzidas pelo mundo têm dado ênfase ao papel das cidades na atual economia globalizada. Algumas dessas pesquisas, sobretudo as conduzidas pelo Globalization and World Cities (GaWC), grupo criado por Peter Taylor, professor de geografia da Loughborough University no Reino Unido e pelo GW Center for the Study of Globalization (GWCSG), com sede na George Washington University, Estados Unidos, focam principalmente nas questões ligadas aos fluxos de capitais e suas implicações locais. Em outros termos, como o capital financeiro que movimenta os mercados globais se materializa na cidades; seja pressionando mudanças no uso do solo, com requalificações de antigas áreas e (ou) construções de novos equipamentos e edifícios, seja demandando investimentos em tecnologia de informação e comunicação ou induzindo combinações e variantes desses dois eixos.
Considerando esse viés de investigação, Salvador é uma das cidades que sempre aparece nas diversas pesquisas quando se estabelece uma hierarquia de cidades na escala nacional brasileira. A depender do atividade a ser estudada, a posição da cidade varia entre 3a e 6a nos diversos rankings, alternando com Recife, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Fortaleza e Belém. Essa posição é muito mais desfavorável quando entram dados sociais e índices de qualidade de vida.
Com a ótica das estratégias globais, no entanto, a importância de Salvador é quase insignificante; ainda que a cidade esteja inserida numa ou noutra rede secundária, ligada as atividades de turismo e lazer tropicais (praias e festas), como são os links diretos com a Alemanha, Península Ibérica, Itália, América do Sul e a cidade de Miami, nos Estados Unidos. Esta última, em verdade, servindo mais como porta de entrada de turistas brasileiros nos Estados Unidos do que recebendo norte-americanos.
Sob o viés da lógica centro-semiperiferia-periferia (World City hyphotesis, John Friedmann, 1986), Salvador, como outras capitais brasileiras, apenas sofre os efeitos colaterais da globalização, em nenhum momento sendo agente ativo do processo. A atração dos capitais por lugares estratégicos', onde uma infraestrutura informacional, de comunicações e de transportes esteja instalada, aliada a presença de mão-de-obra qualificada e serviços de padrão internacional, isola a cidade de São Paulo de quase toda a América do Sul. Buenos Aires, Rio de Janeiro e Curitiba lhe seguem, numa espécie de segundo escalão.
A by-passed city. Uma espécie de lógica perversa tende a empurrar para uma obscuridade ainda maior cidades que, de certa forma, optam por estar à sombra. Não estão atentas à violenta desregulamentação que rege os mercados atuais e muito menos à saida do 'estado provedor' do papel de suporte do bem estar social.
Esse estágio atual do capitalismo avançado, que submete as cidades a uma competição por atração de capitais, exige das administrações locais bem mais do que esforços de marketing em busca de uma imagem positiva de cidade. Exige investimentos concretos em capital humano, redução da pobreza e dos abismos sociais, bem como investimentos na infraestrutura de funcionamento da cidade; transportes eficientes, limpeza pública, segurança.
Nesse ponto os esforços dos que se alternam na prefeitura de Salvador nos ultimos 20 anos têm se mostrado medíocres. Tanto nas gestões ditas liberais quanto nas que se colocam à esquerda, uma opção por vender uma imagem cultural, carregada de clichês, tem empurrado a cidade para um exotismo autocomplacente, baseado em eventos efêmeros (festas religiosas, carnaval), estetização da pobreza e valorização publicitária da paisagem litorânea, sem que mesmo se tenha para essa última uma política efetiva para o seu consumo sustentável. As praias de Salvador são sujas; de difícil acesso; repletas de comércio informal e pedintes; com suas areias privatizadas por quiosques de alimentação, além de terem se tornado territórios privilegiados para a prática de pequenos furtos.
A economia do chamado patrimônio intangível, sobretudo ligada as grandes festas, interfere de forma pontual e sazonal na cidade. Os eventos efêmeros não estruturam materialmente a cidade para o seu cotidiano, não melhoram sua paisagem construída, não transferem renda, nem formam ou qualificam seus habitantes. A cidade segue sendo pobre, injusta e caminha a passos largos para uma esquizofrenia, celebrando anualmente, em tórridos fevereiros, a sua pouca importância em relação ao mundo.
Tentar mudar o quadro atual de Salvador não significa, necessariamente, que a cidade opte por uma adesão aos ideários de cidade estratégica nos moldes catalães e suas receitas prontas para a América Latina e Caribe. Num primeiro momento é necessário que se entenda os mecanismos que tem mudado a realidade de muitas cidades no mundo, para melhor ou para pior. E esse entedimento passa, sim, por lidar com as questões de mercado que regem o mundo contemporâneo e que exigem tomada de posição, sob pena de continuar sendo uma cidade que apenas sofre os efeitos colaterais da nova lógica global. O passo imediato é decidir se Salvador quer seguir sendo destino de um turismo exótico, em boa parte duvidoso, como as levas de europeus à cata de sexo fácil, ou pretende obter um lugar mais digno na distribuição do que há de melhor no mundo. As pistas atuais, infelizmente, não são muito animadoras.
Considerando esse viés de investigação, Salvador é uma das cidades que sempre aparece nas diversas pesquisas quando se estabelece uma hierarquia de cidades na escala nacional brasileira. A depender do atividade a ser estudada, a posição da cidade varia entre 3a e 6a nos diversos rankings, alternando com Recife, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Fortaleza e Belém. Essa posição é muito mais desfavorável quando entram dados sociais e índices de qualidade de vida.
Com a ótica das estratégias globais, no entanto, a importância de Salvador é quase insignificante; ainda que a cidade esteja inserida numa ou noutra rede secundária, ligada as atividades de turismo e lazer tropicais (praias e festas), como são os links diretos com a Alemanha, Península Ibérica, Itália, América do Sul e a cidade de Miami, nos Estados Unidos. Esta última, em verdade, servindo mais como porta de entrada de turistas brasileiros nos Estados Unidos do que recebendo norte-americanos.
Sob o viés da lógica centro-semiperiferia-periferia (World City hyphotesis, John Friedmann, 1986), Salvador, como outras capitais brasileiras, apenas sofre os efeitos colaterais da globalização, em nenhum momento sendo agente ativo do processo. A atração dos capitais por lugares estratégicos', onde uma infraestrutura informacional, de comunicações e de transportes esteja instalada, aliada a presença de mão-de-obra qualificada e serviços de padrão internacional, isola a cidade de São Paulo de quase toda a América do Sul. Buenos Aires, Rio de Janeiro e Curitiba lhe seguem, numa espécie de segundo escalão.
A by-passed city. Uma espécie de lógica perversa tende a empurrar para uma obscuridade ainda maior cidades que, de certa forma, optam por estar à sombra. Não estão atentas à violenta desregulamentação que rege os mercados atuais e muito menos à saida do 'estado provedor' do papel de suporte do bem estar social.
Esse estágio atual do capitalismo avançado, que submete as cidades a uma competição por atração de capitais, exige das administrações locais bem mais do que esforços de marketing em busca de uma imagem positiva de cidade. Exige investimentos concretos em capital humano, redução da pobreza e dos abismos sociais, bem como investimentos na infraestrutura de funcionamento da cidade; transportes eficientes, limpeza pública, segurança.
Nesse ponto os esforços dos que se alternam na prefeitura de Salvador nos ultimos 20 anos têm se mostrado medíocres. Tanto nas gestões ditas liberais quanto nas que se colocam à esquerda, uma opção por vender uma imagem cultural, carregada de clichês, tem empurrado a cidade para um exotismo autocomplacente, baseado em eventos efêmeros (festas religiosas, carnaval), estetização da pobreza e valorização publicitária da paisagem litorânea, sem que mesmo se tenha para essa última uma política efetiva para o seu consumo sustentável. As praias de Salvador são sujas; de difícil acesso; repletas de comércio informal e pedintes; com suas areias privatizadas por quiosques de alimentação, além de terem se tornado territórios privilegiados para a prática de pequenos furtos.
A economia do chamado patrimônio intangível, sobretudo ligada as grandes festas, interfere de forma pontual e sazonal na cidade. Os eventos efêmeros não estruturam materialmente a cidade para o seu cotidiano, não melhoram sua paisagem construída, não transferem renda, nem formam ou qualificam seus habitantes. A cidade segue sendo pobre, injusta e caminha a passos largos para uma esquizofrenia, celebrando anualmente, em tórridos fevereiros, a sua pouca importância em relação ao mundo.
Tentar mudar o quadro atual de Salvador não significa, necessariamente, que a cidade opte por uma adesão aos ideários de cidade estratégica nos moldes catalães e suas receitas prontas para a América Latina e Caribe. Num primeiro momento é necessário que se entenda os mecanismos que tem mudado a realidade de muitas cidades no mundo, para melhor ou para pior. E esse entedimento passa, sim, por lidar com as questões de mercado que regem o mundo contemporâneo e que exigem tomada de posição, sob pena de continuar sendo uma cidade que apenas sofre os efeitos colaterais da nova lógica global. O passo imediato é decidir se Salvador quer seguir sendo destino de um turismo exótico, em boa parte duvidoso, como as levas de europeus à cata de sexo fácil, ou pretende obter um lugar mais digno na distribuição do que há de melhor no mundo. As pistas atuais, infelizmente, não são muito animadoras.
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